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A oitava temporada de The Walking Dead vem aí em outubro, mas Steven Yeun não consegue esquecer aquele momento sangrento no qual Negan (Jeffrey Dean Morgan) e Lucille tiraram a vida de seu personagem no início do sétimo ano da série tanto quanto os fãs.

O intérprete de Glenn Rhee revelou em entrevista a Vulture (via Vanity Fair) que acredita que a brutal cena não teve tanta repercussão negativa para a emissora AMC, e não foi muito diferente das mortes anteriores da série, apesar de parecer gratuita. Segundo Yeun, os criadores não sabiam que o personagem era tão querido pelo público.

"Talvez eu não seja objetivo, mas sinto que as pessoas não sabiam o que fazer com Glenn. Eles gostavam dele, não tinham problemas com ele, e as pessoas o apreciavam. Mas eles não reconheceram a conexão que as pessoas tinham com o personagem até que ele foi embora. Eu olho para o que aconteceu e penso 'Isso não foi mais sangrento do que o que fizemos antes, por si só'. Ninguém ficou com o rosto rasgado pela metade! As pessoas tiveram suas tripas esmagadas e cabeças rolaram. Mas [a morte de Glenn] pareceu gratuita porque 1) continuou acontecendo e 2) acho que eles mataram alguém com quem eu não percebi que tinha feito uma conexão tão grande até que o tivessem levado embora."

Além disso, o ator revelou que Glenn merecia mais crédito e atenção:

"Adorei estar naquela série. Internamente, foi incrível. Externamente, era difícil às vezes porque nunca senti como se ele recebesse o que merecia. Nunca senti que ele conseguiu isso de uma percepção externa. Eu não digo isso como uma crítica destrutiva de nada. Ele sempre teve que fazer parte de outra coisa para se legitimar. Ele raramente estava sozinho. E quando ele esteve sozinho, levou vários anos para convencer as pessoas que ele podia se virar sozinho."

Yeun ainda lembrou que, após o fatídico evento que levou o personagem à morte, foi a primeira vez que um veículo fez uma matéria de capa dedicada a Glenn:

"Agradeço a Entertainment Weekly por aquela maravilhosa capa que eles fizeram no final, mas já tivemos muitas capas antes dessa, e ele nunca foi destaque sozinho. Somente no último ano, eles lhe deram sua própria capa, e o fizeram quando ele morreu."

Entretanto, o ator não leva esse fato como uma visão racista, por o personagem ser asiático. Mas acredita que todos os protagonistas de TWD foram um grande coletivo como a coletividade Borg de Star Trek, no qual todos os indivíduos estão conectados e pensam e agem como um só:

"Não pensei nisso como racismo, onde é como, 'Oh, isso é racista'. Eu peguei isso em uma maneira de 'Oh, é assim que somos vistos o tempo todo' – como parte de um coletivo global, amorfo e não individualista. Nós somos como um Borg, e por isso, eles ficam, tipo, 'Bem, não precisamos dar brilho a esse personagem. Há todos esses outros personagens que são tão legais!' Eu sempre ouvi as pessoas dizerem 'eu amo Glenn, ele é meu personagem favorito'. Mas a divulgação iria de um jeito. Esse realmente pode ser o mercado, então não vou ficar aqui e ser como 'Por que eles não fizeram mercadoria de Glenn?' Mas houve uma disparidade. Eles não sabiam o que Glenn era, e só na morte dele perceberam: 'Oh, isso é o que ele era. Essa é a conexão que eu tive, e é por isso que me dói demais para vê-lo morrer'", explicou ele.

E ressaltou que era querido porque criava identificação com o público: "Muitos dos outros personagens são incríveis, mas são exatamente isso – incríveis e maravilhados com isso: 'Eu queria ser aquele cara ou aquela garota'. Com Glenn foi, tipo, 'acho que sou como esse cara'. Você tira esse cara da equação e faz isso de uma forma tão brutal, tem que haver uma reação instintiva a isso".

Quando perguntado se caso Glenn tivesse sido branco, nunca teria tido violência infligida a ele de tal maneira, Yeun negou que vê o fato dessa maneira. Inclusive, porque a morte do personagem acontece justamente desse jeito nos quadrinhos de Robert Kirkman também. O ator acredita que sair da série desse jeito foi até mais memorável.

"Não acho que houve mais violência infligida a ele porque era asiático. Acho que eles teriam feito o mesmo. Talvez seja algo para dizer que você nunca viu um personagem asiático morrer daquele jeito na tela antes - porque não temos pessoas asiáticas na tela para morrer! Mesmo quando morremos, morremos em silêncio. As pessoas perguntam às vezes se estou triste que estou fora da série, mas acho que o mais cruel é que, se Glenn continuasse, sabendo como as coisas geralmente funcionam, eu poderia prever totalmente uma situação em que ele lentamente, silenciosamente desaparece no fundo e é um pouco lembrado, mas não realmente. Mas, dessa forma, era como levantar um crânio maltratado para o mundo e dizer, tipo: 'Não se esqueça, essa pessoa asiática existiu neste meio e agora está morto'. Tipo, ele está muito morto. Isso é super legal! Eu estou bem com isso."

Um dos projetos mais recentes de Steven Yeun é como um ativista radical dos direitos dos animais em Okja, filme original da Netflix que disputou a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Vitória Pratini

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